quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Falácias pela janela ao lado...

Um predio alto no morro. Estava a me recrutar diante daquelas janelas de vidro coberta por papel alumínio. Evitava que o sol me acordasse cedo demais. Eram cinco ao todo, duas no primeiro andar e tres no segundo, sendo que quatro delas eram de frente para rua, duas embaixo e duas em cima, a quinta ficava na lateral, por sorte - quem sabe!? - essa era a que  tinha a mais incrível das paisagens, o mais belo horizonte que ja vi... era, justamente, o que chamava de "1/4 de mundo".  Por essa janela passava esse mundinho rápido, desenfreado e ambicioso.

Anos atras conseguia-se enxergar o mar azul anil muito, muito longe, no horizonte mesmo. Do horizonte para a lembrança, tem anos que nao consigo aquela faixa azul infinita. Em compensação, bastante nítidos ficaram os prédios da cidade, estradas, viadutos, carros subindo e descendo em mao dupla, dezenas de torres da rede telefônica, condomínios a mil, uma parte que sobrou de mata atlântica, e por ironia, as novas construcoes, as novas maquinas de cavar e homens transformando cimento em concreto. Edifícios inacabados e esgotos a ceu aberto. Aviões passavam vagarosamente ao meu ponto de vista.  Dava para ver também alguns guetos. Uma enorme bandeira do Bahia estendida bem no alto de uma casa na favela mostrava a preferência entre os favelados. Via-se o ceu,  as nuvens e as estrelas.

Por volta das cinco e quinze da tarde aprecia-se o por-do-sol com o charme do queixo no ombro direito. Casas, arvores e predios faziam o contorno ideal de onde o sol se punha, lindo e singular. Ver o sol se pondo fazia com que me sentisse vivo, nao que isso fosse uma necessidade, mas um privilegio do universo... um dom do universo...a chance de viver enquanto um corpo cósmico, um ser que ocupa um espaco físico. Um ser único. Me sentia brilhando feito esses astros, ou algo parecido.

Ver todas aquelas coisas pela janela eram embaraçosas , principalmente depois algumas doses de conhaque e goles de cerveja. Para os olhos era cansativo, distorcia. Para a boca era amargo, vomitava as vezes. Sempre recorria a tal lugar, ficando admirado, sonhando alto muitas vezes. Pecava ao chorar pensando ter agido errado. - nunca satisfeito com o sentido concepcional da palavra "errado" - ..... Elaborava planos...pensava, pensava e fazia... quanto mais impossível melhor. Um destino impossível era minha verdadeira vontade. Nunca me arrependeria dos meus atos -"o que vou fazer agora? era a eterna pergunta - isso ocorria em quase todas as vezes. Molhei o travesseiro com uma ou duas lágrimas antes de dormir. Achei, durante muito tempo que deveria me jogar da janela, sem esperar mais nada...

Vento gelado na cara,  a boca seca de fumo e a lua nao pecava em brilhar la fora. Permanecia na melhor das fases: cheia. Via-se as constelações. Dalva sufocava com seu brilho insistente em destaque. Gostava de ver os fogos no final do ano pela janela do lado. Era um espetaculo a parte. Nao se perdia um detalhe, nenhum estouro, nenhuma fagulha de pólvora queimando. Pirava! Os mais bonitos eram os vermelho, nao sei se eh minha paixão pela cor, mas na virada de ano aquele vermelho lembrava gotas de sangue saindo por entre as nuvens, em meio a tantas outras explosões, essa sensação me deixava instigado.

A noite, na escuridão, acendiam-se as lâmpadas e tudo era lindo - sorria contente - luzes amarelas, florescentes, predios reluzentes coloridos, alguns enfeites e neons clareavam o breu nos edifícios mais altos e sofisticados.... as pontas das antenas acendiam e apagavam. Eram muitas luzes acesas, eram milhares delas. Todas aquelas nuvens alvas. Por sorte, num desses dias escuros clareados pelo efeito das luzes, passou uma estrela cadente cortando o ceu de leste a oeste. Fiquei surpreso! Era a primeira vez que recebia um presente dos astros. Me senti meramente lisonjeado. Fiz um pedido! Acabei por desperdiçar  o que restava da minha fé sobre as coisas, como um compasso da harmonia na disposicao das erratas

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

o velho do bar

Meus dias passavam rápido. Um olhar no horizonte me fez lembrar de todas as travessuras, de tudo que achava divertido ate então.  Ninguém poderia, um dia sequer, seguir esses meus passos rapidos em direcao ao centro....Dias e mais dias, noites e mais noites, tardes e mais tardes. Aprendi a amar e a sorrir... mas ninguem entendia os meus tracos, minhas manchas, a inocência conturbada nos olhos em castanho claro, que brilhava com a luz, que quase nunca tocava meu rosto, ja que nao andava direcional ao sol. Um anel asteca servia-me como amuleto. Apreciava livros russos, alemaes e italianos. declamava trechos. Sempre achei que a unica coisa que nao queria na vida, era voar, e apesar de assubiar, dizia que esse era um dom dos passaros. Seres humanos ja passavam por mim despercebidos, nao despertavam interesse algum.

Encontrava-me aleatoriamente com um velho num bar, que sempre estava la nas horas necessarias, esperançosas e inúteis. Ensinava-me coisas nao tao belas da vida. O bar do centro, o bar dos velhos, que so os cegos nao enxergavam, ou os que nao tinham coragem de entrar e descobrir seus misterios alcoolicos.
No balcao garrafas de cervejas enfileiradas, um corredor com todas as marcas de cervejas imaginaveis, garrafas de diferentes locais do mundo, de tamanhos variados, para todos os gostos, da mais amarga a mais leve. Mesas cobertas com um pano raso e liso de cor verde. Tudo era tao conservado e limpo, aquele bar era realmente incrivel, o melhor lugar ja visto para beber com os amigos e se deparar com alguns inimigos. Haviam quadros e barris de madeira por todos os lados. Tacas e canecas alemães. O chao era de madeira brilhante.

Mas aquele velho, cujo o nome ninguém sabia. Aquele velho de sorriso amargo e palavras sinceras preferia o porao dos fundos, onde os azuleijos raros cobriam metade da parede em brancos e azul. Um porão empoeirado, escuro e abafado, onde existiam 58 caixas de cervejas vazias espalhadas nos quatro cantos. As cadeiras e mesas ficavam abandonadas, dava para ver aranhas brincando nas teias. Era la que ele ficava, um indignado velhinho negro, de cabelo branco, sempre com aquele terno surrado e um sapato marron, bebendo e sussurando para si mesmo, se questinando, se culpando, se embriagando.

- uma dose de conhaque. uma para mim e outra para meu velho. - pedi ai garcon
- como vai voce, garoto? - perguntou o velho de cabeca baixa.
- bem- respondi
- dose de conhaque foi uma boa pedida - disse o velho com um sorriso no canto da boca.

Nunca viria esquecer daquele velho. Um misterioso que discursava solidao e fumava filtros vermelhos...aquele velho amigo que se recusava dizer o nome, um homem procurando insistentemente um muro. Aquele que me ensionou que tudo na vida era maravilhoso. Tudo, exeto as palavras e acoes que passam dos limites daquilo que julgamos correto.

Numa tarde de domigo, o sol estancava o ceu com poucas nuvens, passei andando pela frente do bar, avistei o velho. Queria reencontra-lo para beber algumas doses, mas ao me aproximar percebi que estava chorando. Preferi naquele momento nao ir ao seu encontro. Fiquei ali, do outro lado da rua, na sombra de uma arvore observando por cinco minutos. Os seus olhos estavam inchados, em meio aos soluços acendeu um cigarro controlando as lágrimas com a cabeça erguida.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Isto, isso e aquilo.

Me sinto assim,
sozinho agora.
Desligado na eterna duvida de ser ou nao ser?
Tao repentino, inesperado, as vezes estúpido, inconsequente e singular.
Um dia quem sabe
os grandes problemas
serao simplesmente solucionados
para o fim desse grande vazio,
que aflige o peito,
me deixando cada vez mais
louco, vivo, sagaz, inclusive vulgar em certas ocasiões.

Na inércia dessa loucura
posso tranquilamente afirmar...
que esse eh o preco que estah sendo pago.
Então suporte!
Pois todos que nao suportam mais,
deslizam ao enxergar apenas uma escuridão morbida.

Sou parte dessa enorme feira moderna...
esparramado no silencio
das imagens distorcidas da solidao.