quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

o velho do bar

Meus dias passavam rápido. Um olhar no horizonte me fez lembrar de todas as travessuras, de tudo que achava divertido ate então.  Ninguém poderia, um dia sequer, seguir esses meus passos rapidos em direcao ao centro....Dias e mais dias, noites e mais noites, tardes e mais tardes. Aprendi a amar e a sorrir... mas ninguem entendia os meus tracos, minhas manchas, a inocência conturbada nos olhos em castanho claro, que brilhava com a luz, que quase nunca tocava meu rosto, ja que nao andava direcional ao sol. Um anel asteca servia-me como amuleto. Apreciava livros russos, alemaes e italianos. declamava trechos. Sempre achei que a unica coisa que nao queria na vida, era voar, e apesar de assubiar, dizia que esse era um dom dos passaros. Seres humanos ja passavam por mim despercebidos, nao despertavam interesse algum.

Encontrava-me aleatoriamente com um velho num bar, que sempre estava la nas horas necessarias, esperançosas e inúteis. Ensinava-me coisas nao tao belas da vida. O bar do centro, o bar dos velhos, que so os cegos nao enxergavam, ou os que nao tinham coragem de entrar e descobrir seus misterios alcoolicos.
No balcao garrafas de cervejas enfileiradas, um corredor com todas as marcas de cervejas imaginaveis, garrafas de diferentes locais do mundo, de tamanhos variados, para todos os gostos, da mais amarga a mais leve. Mesas cobertas com um pano raso e liso de cor verde. Tudo era tao conservado e limpo, aquele bar era realmente incrivel, o melhor lugar ja visto para beber com os amigos e se deparar com alguns inimigos. Haviam quadros e barris de madeira por todos os lados. Tacas e canecas alemães. O chao era de madeira brilhante.

Mas aquele velho, cujo o nome ninguém sabia. Aquele velho de sorriso amargo e palavras sinceras preferia o porao dos fundos, onde os azuleijos raros cobriam metade da parede em brancos e azul. Um porão empoeirado, escuro e abafado, onde existiam 58 caixas de cervejas vazias espalhadas nos quatro cantos. As cadeiras e mesas ficavam abandonadas, dava para ver aranhas brincando nas teias. Era la que ele ficava, um indignado velhinho negro, de cabelo branco, sempre com aquele terno surrado e um sapato marron, bebendo e sussurando para si mesmo, se questinando, se culpando, se embriagando.

- uma dose de conhaque. uma para mim e outra para meu velho. - pedi ai garcon
- como vai voce, garoto? - perguntou o velho de cabeca baixa.
- bem- respondi
- dose de conhaque foi uma boa pedida - disse o velho com um sorriso no canto da boca.

Nunca viria esquecer daquele velho. Um misterioso que discursava solidao e fumava filtros vermelhos...aquele velho amigo que se recusava dizer o nome, um homem procurando insistentemente um muro. Aquele que me ensionou que tudo na vida era maravilhoso. Tudo, exeto as palavras e acoes que passam dos limites daquilo que julgamos correto.

Numa tarde de domigo, o sol estancava o ceu com poucas nuvens, passei andando pela frente do bar, avistei o velho. Queria reencontra-lo para beber algumas doses, mas ao me aproximar percebi que estava chorando. Preferi naquele momento nao ir ao seu encontro. Fiquei ali, do outro lado da rua, na sombra de uma arvore observando por cinco minutos. Os seus olhos estavam inchados, em meio aos soluços acendeu um cigarro controlando as lágrimas com a cabeça erguida.

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